quarta-feira, 15 de maio de 2013

QUINTO EXERCÍCIO (segunda semana)

Não transcreverei os terceiro e quarto exercícios. Resultaram de uma forma bastante pessoal...

Portanto, aqui fica o quinto exercício.

A Margarida apresentou-me a margem da folha de um livro em que surgiram as seguintes palavras:

- Uma cara
- indolentes pela
- ruga desapontava
- ser um 
- encovados
- Sim, eram
- Uma vida
- caía para
- puxou-os
- preguiçosos
- Tanto fazia

Montar um texto com estas mesmas palavras, mantendo os grupos unidos, ignorando a pontuação e as maiúsculas. O que a Margarida pede é que se escreva depressa.

Resultado:

"Uma cara, mais outra, várias surgiram sob a ombreira da porta, indistintas e disformes perante a escuridão presente na sala de estar. Sérgio mantinha-se imóvel, em frente à lareira, assombrado pelas presenças desconhecidas que caminhavam indolentes pelo espaço ao seu encontro. Um toro de madeira rebolou na lareira acesa, intensificando a luminosidade ténue e reflectindo alguns rostos brancos e indescortináveis. Uma ruga desapontava sobre a testa curiosa do rosto que se impunha na frente da procissão. "Quem é este homem? Pode ser um dos  intervenientes que esteve presente na reunião da há dois meses..." 

Podia, mas não estava certo. Várias bocas, de lábios encovados pelo silêncio imposto, iniciaram ligeiros esgarres, de quem pretendia demonstrar uma opinião de perplexidade. Reconheceu algumas. Sim, eram as mesmas caras que vislumbrara na manifestação! Jamais se sentira tão indesejado, tão "persona non grata" como se havia sentido perante aqueles olhares perscrutadores, que num grito unido e ensurdecedor, empunhando palavras de revolta em cartazes artesanais lembrando, alguns, uma vida perdida, inacabada, nos meandros de uma crise sem precedentes. 

Desviou o olhar na direcção de um inesperado movimento. Um rosto feminino caía, para logo ser amparado pelo seu vizinho. Outro puxou-os, tentando suster ambos. Apetecia-lhe descartar-se daquelas presenças. Apetecia-lhe mandá-los embora, chamar a polícia, mas não conseguia chegar ao telefone; chamar os seguranças, mas estavam detidos no exterior pelo resto da maralha revolta. Sentiu a raiva crescer enquanto as palavras se engasgavam na sua garganta, num atropelo descontrolado.

- Seus preguiçosos! Não tivessem feito greve! Não estariam agora sem emprego. Há mais quem queira trabalhar. Não valem nada! Como se atrevem a invadir a minha casa, nem sei! Rua! Rua, ouviram!? Saiam!

A maralha avançou empunhando o que distinguia agora serem paus, porretes, pedras. Não escaparia àquela investida, de certeza. Mas também, tanto fazia! Estava já tudo perdido, e nenhum daqueles meliantes venceria. Seriam todos apanhados e castigados. Tinha esperança disso!"

(meia hora)


"Together", Jiten Hazarika

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