domingo, 21 de julho de 2013

DÉCIMO SÉTIMO EXERCÍCIO (sétima semana)

Retrato de personagem; interacção; apenas os pensamentos das personagens (divertido).

Gisela, de 25 anos, editora. Insegura, desajeitada, sempre envolvida numa personagem que afasta os olhos alheios do seu verdadeiro ser. Anseia aceitação na editora, mas tem receio de avançar na carreira e de não dar conta do recado. Tem uns maravilhosos olhos azuis que passam despercebidos por detrás dos óculos que a protegem do astigmatismo. Os cabelos escuros são longos e não variam além do rabo-de-cavalo preso na nuca e do solto. Calça um sapato de salto pela primeira vez na vida: quer começar a sentir-se mulher. Mas o seu andar é desajeitado.

Momento de viragem - Passa no corredor no momento em que o Tadeu - jovem das limpezas -, encera o chão de soalho de madeira. Ele agrada-lhe, mas ela não conhece o mundo das conquistas. Os olhos negros de Tadeu derretem-na. E hoje de saltos, caminha insegura.

Gisela Bolas! Caramba! Não podias estar a encerar uma das salas?! Como é que eu passo aí a fazer esta figura? Já me doí a barriga das pernas!
Tadeu É pá! Saltinho alto hoje. Está mais desengonçada que uma vara ao vento. A miúda é engraçada. Quer tornar-se mulher, é o que é! Até era capaz de lhe dar uma ajuda…
Gisela Respira fundo que estás quase a passar por ele. Vá! Equilíbrio! Só mais um pouco e entras na tua sala. Ficas safa!
Tadeu Vou-me meter com ela. Vai ser giro! Vai ficar toda atrapalhada!
Gisela Por favor! Ó meu Deus! Tira lá a raça da máquina do caminho. Ainda tropeço nessa porcaria. Raios!
Tadeu Ó que desajeitada. Agora tenho que ajudá-la a levantar-se do chão. Só me apetece rir! Contem-te. Não tem graça nenhuma pores-te a rir na cara da miúda.
Gisela Ó Santo Deus! Porventura achará que não me consigo levantar do chão sozinha. Tira-me lá as mãos das ancas. Consigo equilibrar-me! Deixei cair a porra dos óculos. Onde é que estarão? Ele está a apanhá-los. Aí se este diabo conta a alguém! Deixa-me lá pôr direita. Dá cá mas é os óculos. Não estou para delicadezas. Ai os olhos deste sacana. Parecem mel!
Tadeu Eh! Selvagem! Mal agradecida! Espera lá... Está bonito! Agora arrepio-me todo a olhar-lhe para os olhos. Nunca lhos tinha visto bem… Que azul, mano! Parecem o céu...
Gisela Tenho que ser eu a afastar-me?! Vá Gisela dos Santos! Entra na sala! Diabo da porta que não abre à primeira. Vá! Agora fecha a porta! Respira fundo!


quinta-feira, 18 de julho de 2013

DÉCIMO SEXTO EXERCÍCIO (sétima semana)

Nomes, anagramas, textos...

Inês Catita Efigénia

Gini! Senta-te e fica aí!

******
Texto (50 palavras)


"Diabo da cadela! Não obedece!"

As tentativas amontoavam, e o desespero acumulava, transbordando no olhar entontecido da dona. Todos olhavam, uns divertidos com a indisciplina, outros tendentes a recriminar a veemência, ininterruptamente imposta na mesma ordem.

- Gini! Senta-te e fica aí!

Mas nada! Mal Dora virou costas, a Gini seguiu.


quinta-feira, 4 de julho de 2013

DÉCIMO QUINTO EXERCÍCIO (sexta semana)

Descrição do espaço... Obedecendo as devidas directrizes.





Madalena Fernandes, uma jornalista dedicada ao mundo intenso das artes, tinha agora em mãos umas das entrevistas mais esperadas da sua carreira. Segurava com força a sua mala de trabalho, onde canetas, lápis, blocos e gravador se misturavam, oferecendo companhia uns aos outros nos momentos de descanso.

Subiu as escadas, a excitação a toldar-lhe o raciocínio. Era tão raro a Sofia Boaventura dar entrevistas. Agora então, a idade avançada, as limitações impostas por esta... Tinha que dar o seu melhor e tornar aquela sessão numa simplificada tertúlia da vida de uma senhora brilhante.

Uma governante mostrou-lhe a sala onde deveria esperar, indicando-lhe um dos dois cadeirões de veludo vermelho dispostos em frente à lareira, onde o leve crepitar da lenha se destacava levemente, intensificando a frágil luz difundida pelas portadas entreabertas das duas enormes janelas da ampla sala. Sentou-se.

- Posso oferecer-lhe alguma coisa: um café, um chá, um refresco?
- Um copo com água fresca, por favor...

A governanta anuiu silenciosamente, atribuindo um sorriso dedicado. Saiu da sala, fechando a porta atrás de si, e deixando a Madalena só, entregue àquelas manifestações de uma superioridade delicada e única.

Deteve o olhar sobre o piano de cauda negro, e imaginou-o, silenciosamente, a vibrar as infinitas melodias nele reproduzidas. Levantou-se, movida pelo desejo de lhe tocar. Tocar-lhe trazer-lhe-ia certamente alguma ideia das suas vivências. Sentou-se sobre o banco, tocando timidamente nas teclas, ora nas brancas, ora nas negras, de olhos fechados, adivinhando cada som, sentido as vibrações percorrer a sala e quem nela algum dia se sentara para ouvir a Sofia tocar, embriagados de paixão pelo deslizar incomparável daqueles leves e brilhantes dedos. As pautas... Pegou numa peça de Bach, concerto para piano e ergueu-se tendo reconhecido as notas, maestrando a orquestra imaginária, enquanto o seu cérebro entoava a obra.

O seu calcanhar tocou em algo, causando um leve som de queda. Largou as pautas, depondo-as no seu lugar original e virou-se, encontrando três telas a óleo inacabadas, que haviam deslizado com o toque do seu pé. Ajeitou-se, lembrando-se de onde estava, repentinamente nervosa com a perspectiva de alguém a encontrar a tocar no que não era seu para tocar. Mas a tela no cavalete - essa sim, acabada - fez com que se detivesse novamente a observar o rosto retratado. Era um rosto jovem, extremamente feminino, de longos cachos de caracóis cor de ébano e de olhar perdido sobre o dourado campo de trigo que transmitia a ideia de movimento ao ritmo de uma leve brisa misturada com os leves sons daquela casta sala.

Retomou a sua caminhada pela sala, apinhada de pequenas valiosas coisas. As pequenas caixas de porcelana - provavelmente uma qualquer colecção - eram possivelmente oriundos de todos os cantos do mundo. De cores e formas diferentes, pegou em algumas, sentindo as texturas, umas ásperas, outras lisas, umas com finas imagens pintadas à mão, outras de uma cor lisa, outras com maravilhosos relevos. Não ousou abrir nenhuma, consciente do seu atrevimento em simplesmente tocar-lhes. Havia outros objectos, pequenas estatuetas, outras maiores, jarros, jarrinhos e jarrões, e o imenso leque de cores daquela sala principiou a deixá-la tonta de emoção, tal era a variedade de sons e imagens que imaginava, as viagens de que haviam resultado, as histórias que escondiam. 

Numa mesa redonda, deteve-se a observar as molduras de rostos desconhecidos: seguramente família e amigos. Pegou numa em que reconheceu a jovem Sofia, sentada sobre um banco de jardim, envolvida pelo abraço caloroso de um homem, também ele jovem, enquanto três crianças aparentemente agitadas pareciam debater-se por um lugar ao colo de ambos, todos com imensos e felizes sorrisos. Pousou novamente o retrato, invadida por uma alegria contagiante.

Caminhou na direcção das estantes. Deteve-se a contemplar as lombadas dos livros, engolindo cada título, cada autor: Milan Kundera, "A Insustentável Leveza do Ser", "A Vida Está Noutro Lugar", "O Livro do Riso e do Esquecimento", Tolstói, "Guerra e Paz", "Anna Karenina", "A Morte de Ivan Llitch", Charlotte Brontë, "A Paixão de Jane Eyre", Emily Brontë, "O Monte dos Vendavais", uma infinita panóplia de autores e romances que fizeram com que o pensamento de Madalena viajassa de encontro às grandes histórias de séculos passados, de tempos vividos em outras condições físicas, de acordo com outras vontades, desejos, objectivos. Pegou no exemplar de "As Brumas de Avalon - A Senhora da Magia", de Marion Zimmer Bradley, e abriu na primeira página, em branco, encontrando uma singela dedicatória, ardente de admiração pela actual dona daquele livro:

"Para a minha adorada companheira, Sofia, a verdadeira feiticeira de todos os meus sentidos, ao cabo de quarenta anos de união, no Amor e na Alegria. Amo-te!"

A porta abriu-se. Fechou repentinamente o livro e virou-se.

Óleo sobre tela
Escrevendo, Daniel F. Gerhartz

segunda-feira, 1 de julho de 2013

DÉCIMO QUARTO EXERCÍCIO (sexta semana)

Primeiro exercício relacionado com poesia. Este é um verdadeiro desafio. Um pouco à toa. Não me dou de pretensões a poeta... 

Obedece, este exercício, a um esquema, não transcrito. As minhas palavras terão que estar em acordo com as de um(a) poeta(poetiza) que escolho. Uns versos são meus, outros tirados das minhas escolhas. Assim me é pedido.

Escolhi Sophia (Sophia de Mello Breyner Andresen), porque a Sophia me enaltece, me dá voz, me faz mediatar, e querer ir além.

Perdido o meu olhar na distância difusa
O meu interior é uma atenção voltada para fora,
Num suspiro de desejo agoirado.
E a luz que nos rodeia é como grades
Que leva o pensamento insano, numa jornada
Com uma tão simples claridade sobre a testa.
Perde-se a vontade do real
E de mim se desprende a minha vida.



Poemas consultados:
"Hora da Partida"
"Retrato de Uma Princesa Desconhecida"
"Exílio"
"Poema"

segunda-feira, 24 de junho de 2013

DÉCIMO TERCEIRO EXERCÍCIO (quinta semana)

Nem por acaso... 

Estive a escrever sobre o Amor no meu Blog "Quando os Passos São Maiores que a Vontade..." 

A seguir abro o livro da Margarida ("Escrita em Dia") para mais um exercício, e percebo que não me vou distanciar do tema...

Aqui fica. Respeitando as habituais regras impostas - afinal é uma sugestão, um exercício. O fascínio reside em o conseguir ultrapassar. Mas não vou dizer quais são as regras. Revelaria de mais...

De: André Milhas
Para: Clara Duarte
Assunto: Não o consigo referir...

Jamais lhe dissera onde estava... Não queria que ela sonhasse com aquilo... com aquele lugar... que ela soubesse...

Mas estava prestes a sair. Um perdão! Não cumprira o tempo, por causa daquele perdão. Condicional, mas livre. Todavia, não imaginava o que o poderia esperar para lá dos muros. Quando as pessoas soubessem o que fizera, onde estiver...

Tinha que lhe escrever, despedir-se. Só precisava que os computadores estivessem disponíveis. Esperou... Vagou um.

"Clara, despeço-me assim de ti, por não ser capaz de o fazer de outra forma. Não consigo sequer começar a dizer-te a importância que tens tido para mim. Não teria conseguido viver esta aventura sem saber que estavas desse lado, a apoiar-me, a responder a cada um dos meus apelos contra esta solidão. Foi um verdadeiro desafio, este encontro. Acreditaste! E isso foi de um valor inestimável para mim. Esta hesitação em partir, foi apenas por tua causa. Mas hoje decidi-me. Não sei se algum dia voltarei a ter oportunidade de te escrever. Amanhã começa uma etapa totalmente nova para a mim. Algo completamente desconhecido... 
Agradeço todo o teu carinho. Agradeço toda a tua paciência. Mas devo dizer que não sou nem quem nem o que tu pensas.

Até sempre!"

Carregou em enviar e esperou. Não queria que a resposta entrasse, mas era provável que assim fosse. E nem cinco minutos passaram.

De: Clara Duarte
Para: André Milhas
Assunto: Sempre soube!

"Sempre soube quem tu és e onde estás, Paulo! Agora depende de ti... Eu estou fora desses muros, se quiseres, à tua espera..."



sábado, 22 de junho de 2013

DÉCIMO SEGUNDO EXERCÍCIO (quinta semana)

A partir de uma frase proposta e diliuída...

Outrora adepto de futebol, hoje folgava em se afastar. Rapidamente se habituou: a pasmaceira daquelas tardes agradava-lhe.

- Comprasta a Bola, hoje?
- Comprei!

E depressa as palavras viajavam, desejosas de se diluírem e transformarem, porque ali quem se esquecesse de sonhar, vivia uma adição de monotonias. O Malaquias acertou-lhe com o jornal.

- E não dizes nada do jogo?
- Há alguma coisa a dizer?!

Mas o silêncio reinstalou-se; e era irreversível. Recusava-se a descer. Antes nas nuvens, que a congeminar aquelas fugacidades. Do mundo nada queria. Todo o silêncio era ditoso. Meditava, silente.


Devagar recebeu o cesto, perdendo-se. Ah! Cheiros! Esquecia-se… A vida não podia ser mais simples!


Fim de tarde na aldeia...

quarta-feira, 12 de junho de 2013

DÉCIMO PRIMEIRO EXERCÍCIO (quarta semana)

CRISTIANA PÉ CURTO

Criar uma história para a Cristiana Pé Curto... personagem pré definida.


Não sabia lidar com aquele protagonismo. Tanta confusão em torno de si. Gente, microfones, aqueles pós no rosto e aquela mulher tão bem vestida que parecia tirada de uma daquelas revistas cor-de-rosa que se vendiam lá na papelaria da aldeia. Não havia gente assim por ali…

- Senhora Cristiana, vamos começar por filmá-la um pouco a trabalhar…
- Então não fizeram já isso?

A mulher sorriu, condescendente, denunciando uma ilícita superioridade. Não gostava de fazer aquelas entrevistas naquelas terriolas de fim de mundo. Nascera para voos mais altos. E aquela mulherzinha, coxa, velha, onde é que a tinham desencantado? Cristiana Pé Curto! Havia aquela mania nas aldeias, de pôr nomes às gentes, sempre a ver com algum defeito ou feitio. Que interesse podia haver numa octogenária coxa que levava as manhãs a mexer na terra e as tardes a fazer bonecas e casinhas?

- Filmámos a Senhora a trabalhar no campo, a tratar das árvores, a colher, a cuidar das galinhas, das cabras, dos porcos... Agora vamos filmá-la a fazer estas coisas – apontando depreciativamente para as bonecas de barbas de milho e tecidos velhos e para as casas de pedra e madeira – e a falar dos seus poemas…

- Está bem!

Sentia-se muito pouco à vontade. A Cristiana Pé Curto vivia ali, isolada, há tanto ano que não sabia lidar com aquilo. Veio-lhe à memória a partida dos filhos. Um após outro, tinham partido à procura de melhor, para o estrangeiro. Hoje, estavam divididos entre a Inglaterra e a Holanda. E lá vinham, separados, um ou dois dias por ano ver a mãe, umas vezes com os filhos, outras sem. De nove filhos (seis raparigas e três rapazes), vinte e quatro netos e já sete bisnetos (não conhecia nenhum dos últimos) se aquela casa se enchia dez dias por ano era muito. Houve um Natal… Ah! Um Natal cheio de alegria. Nem conseguira falar com os filhos para os avisar que aquela gente ia lá filmá-la e entrevista-la.

Mas não era fácil virem todos ao mesmo tempo, com os empregos e as escolas, e a vontade de conhecer outros lugares. Não havia nada ali para ver, além de árvores e plantas, e na aldeia mais próxima, uma papelaria, um pronto a vestir onde trabalhava a Etelvina – a modista -, uma mercearia e dois cafés – o do Santos e o do Tobias Zarolho -, onde o pessoal da aldeia se juntava nas noites de verão, as mulheres para beberem um Capilé, ou uma Groselha, ou uma limonada, os homens, sendo homens, atacavam as cervejas, o copo de tinto, ou o bagaço.

Já nem havia bailaricos. Para quê? Não havia gente nova para dançar. Ia tudo embora, à procura de melhor. As festas da aldeia já há muito que tinham passado de cinco a um dia.

Ainda se lembrava de ir aos bailes com o marido e os filhos, vestidos com as roupas domingueiras, muito bem penteados – sim que a Cristiana sempre tivera brio na higiene e boa aparência da família -, todos apinhados na carroça, puxada pela Mila, a primeira mula que tiveram. Era uma bicha forte, aquela, e durou tantos anos, sempre a trabalhar. E o marido… Já nenhum dos filhos estava por lá quando o Leopoldo falecera. Saudades…

- Vamos a isto, Senhora Cristiana? Vai ver que qualquer dia está aí pelas feiras do país a vender as suas bonecas e casinhas. – O homem era mais simpático.
- Vamos lá, então…
- Quer ir cantando um dos seus poemas enquanto trabalha?
- Pode ser…

Sentou-se, cantarolando e costurando as vestes das duas bonecas que jaziam despidas em cima da mesa de trabalho, a mulher bem vestida sentada ao seu lado, a fazer perguntas sobre tudo e mais alguma coisa, a camara de filmar ora a fazer grandes planos das suas mãos e do que ia fazendo, ora do seu rosto, entregue à canção e às respostas.

"A Mãe", Ricardo Bezerro

segunda-feira, 10 de junho de 2013

NONO E DÉCIMO EXERCÍCIOS (quarta semana)

No máximo uma palavra entre cada duas palavras obrigatórias.

Assentou pés, ansiosa por saber dos assuntos todos. Mandatária, tirou conclusões momentâneas. A todos importava nada mais... Apenas o testamento. Tinha certeza! Iria ser árdua tarefa.

Assim seja! Aprendi bem! Fácil!

Ganhou fôlego, limpando caminho, antecipando as dificuldades levianas.

E agora, refazer o texto, com total liberdade... Mais ou menos...

Mal assentou os pés na sala, percebeu todo o antagonismo presente. Rostos cerrados, de bocas de lábios finos, entesados pelo advento agora em curso. Sentia-se ansiosa. Queria saber tudo, os assuntos todos pendentes. 

Tinha uma ideia acerca de cada um... Nada definitivo. Sabia de toda a negligência para com a testada, e como as invejas minavam aquelas desalmas. Mandatária, incumbida da tarefa de ler o testamento em que ela mesma estava incluída, tirou as suas conclusões momentâneas.

A filha mais nova, mantinha-se  de pé. Preocupada em manter o vestido impecável sem uma única ruga, ciente da sua elegância e do valor dos seus trajes dispendiosos. O marido, de uma beleza e vaidade incontestáveis, mostrava-se impiedosamente concentrado na pasta que a testamentária segurava. A outra filha, viúva, desprovida de qualquer interesse, manejava, aparentemente calma o pequeno colar de pérolas antigo. Os dois filhos, homens, permaneciam impávidos e ávidos. Não disfarçavam o interesse naquela sessão. A filha do meio mostrava-se audaz e desfeita de preconceitos. Solteira, era incapaz de aceitar a união sagrada das irmãs. Embora calma, e de vestes simples e desaprovadas pelas irmãs, fazia do bater do chinelo de enfiar no dedo o único acompanhamento musical daquele momento. 

Conhecia bem aquelas aparências.

A todos importava nada mais... Apenas o testamento. Tinha a certeza que iria ser complicado. A tarefa iria ser árdua. Também ela - grande amiga da falecida, apesar da diferença de idade - estava incluída naquele testamento.

- Assim seja! Tive um bom professor! Aprendi bem! Sei manter-me imparcial... Vai ser fácil!

Tentava convencer-se, consciente dos obstáculos com que se  iria deparar. Retirou os documentos da pasta. Sentou-se à secretária, frente aos seus interlocutores. Ganhou fôlego. Procurou as palavras, limpando o caminho com um sorriso profissional... antecipando as dificuldades levianas.


sexta-feira, 31 de maio de 2013

OITAVO EXERCÍCIO (terceira semana)

Momento de viragem, dando corpo ao texto… Vou utilizar a minha personagem do exercício seis!

Já oito da noite, e o ar fresco invade-lhe o rosto causando um encarquilhamento instantâneo que fez Isabel poisar os sacos arduamente pesados e levar as mãos ao rosto, esfregando energeticamente as faces rosadas e exasperadas pelo vento.

“Um creme hidratante é que me dava jeito! Ponho um bocado do creme dos miúdos. Não tenho idade para ter esta pele. – olhou para o vidro da montra, contemplando o seu reflexo usado e desanimado. – Não tenho idade para nada disto!”

Enquanto caminhava na direcção da paragem reflectiu sobre o seu regresso a casa. Àquela hora, o Jorge já teria as crianças com o banho tomado, de pijamas, a Leonor e a Helena já teriam os trabalhos de casa terminados e estariam agora a brincar no quarto, enquanto o Francisco estaria em frente à televisão, no chão, com os blocos de construção ou os carrinhos de brincar, a ver o mesmo programa que o pai, a que também o Gustavo, espojado no colo do pai,  estaria a tentar assistir, já com as pálpebras a pesar, e o dedo polegar entre dentes. Sentiu um sorriso surgir timidamente quando os filhos correram para a abraçar, seguidos pelo pai que, tomando os sacos das suas mãos doridas, a envolveu num abraço de boas vindas, selado por um beijo reconfortante e apaixonado.

- O jantar está pronto! Vai tirar o casaco, Querida! Eu levo os meninos para a mesa.

E enquanto poisava o casaco sobre a cadeira do quarto conseguia ouvir os gritos dos filhos, instigados pelo pai a se sentarem à mesa, num ambiente de harmonia e felicidade.
- Bolas! O autocarro já lá vem!

Sacos a bandear, puxando os seus braços em direcção ao chão, como se se tratassem de âncoras, Isabel largou a correr, em direcção à paragem. O condutor, deixou escapar um sorriso brincalhão, ao vê-la aproximar-se, tentando erguer os braços para que a visse e não arrancasse com o veículo.

Subiu os degraus do autocarro, incapaz de respirar, tentando recuperar o fôlego.

- Isabel, qualquer dia cai redonda no chão!

- Ai! – sorriu, vasculhando a mala à procura da carteira com o passe. – Tenho que me sentar!

- Vá lá! Não precisa mostrar o passe…

O percurso, àquela hora era bem mais rápido do que pela manhã. Saía tarde, mas reconfortava-a o facto de a viagem ser relativamente rápida. Não havia muita gente no autocarro àquela hora. Meia dúzia de rostos cansados do dia de trabalho, com mesmo olhar ansioso pelo regresso às respectivas casas e famílias. Ao fundo viu a Dona Júlia que lhe fez sinal para se sentar ao seu lado.

Era boa pessoa a Dona Júlia. Sempre muito curiosa e desejosa de contar as últimas novidades do bairro… podia-se contar com ela, para que qualquer notícia chegasse ao fundo da rua ainda antes do personagem da história completar o percurso. Mas era uma boa amiga, sempre pronta a auxiliar, sem papas na língua, pronta a defender quem a seu ver merecesse ser defendido. Com o carrapito grisalho preso na nuca, a roupa negra desgastada pela idade e o desgosto pela viuvez de há muitos anos, as mãos doridas de dedos torcidos e deformados pelas artroses, a Dona Júlia compadecia-se com as circunstâncias da Isabel. Os pequenos olhos ergueram-se e estendeu as mãos para ajudar a Isabel a sentar-se.

- Deixe estar Dona Júlia. Eu consigo! Essas mãos precisam de mais descanso do que eu.

- Ai minha querida! E se estou cansada, hoje! Vê tu bem que saí da consulta no hospital já passavam das sete horas. E depois a espera… É que nunca mais chegava o diabo do autocarro. Isto, agente nem pode ir aos hospitais. É os transportes, horas naquelas malditas salas de espera, a taxa, os medicamentos… São todos malucos! Pensam que a vida está para todos! Aqueles que acham que sabem mandar, nem sabem o que os velhos passam. E logo eu que é consulta do reumático, e com estas mãos bem se vê; consulta dos olhos, da diabetes e dos pulmões, que esta maldita tosse não passa. Passo a vida enfiada naquele hospital. Mas olha, ainda hoje estava lá uma bem pior que eu. Tadinha da velhota! Aqueles joanetes! Ai pobre mulher! Nem sei como é que ela consegue andar. Mas olha que para os mais novos a vida também não está nada boa! E tu filha! Olha que estás com um ar bem cansado hoje. Aquele teu marido! Aquilo não é homem, não é nada! Desculpa lá, Isabel. Sabes bem que eu digo tudo o que tenho a dizer. Aquele homem merecia mas era um pontapé no rabo, Deus me perdoe – benzeu-se, como que a pedir perdão por desejar o mal. – Não trabalha, não faz nada, nem com os filhos ajuda. Não pode ser Isabel! Estou farta de te dizer… Tu livra-te dele, rapariga! Ainda és nova e estás a tempo de refazer a tua vida.

Isabel fechou os olhos, tentando esquecer que os restantes ocupantes do autocarro também estavam a ouvir aquela conversa. A mulher à sua frente, do lado oposto, embora ocupada com o tricô, não deixou de olhar fugitivamente para ela. Sentiu-se escrutinada, avaliada. “Nunca mais chega à paragem! Bolas! A viagem hoje não termina."

- Deixa-te estar de olhos fechados filha! Quando chegarmos eu chamo-te. Bem mereces descansar, que quando chegares a casa já sabemos como é… Eu que o oiça gritar contigo! Eu que o oiça, aquele…

Isabel voltou-se, sorrindo acabrunhadamente para a Dona Júlia, quase a suplicar que se calasse. A idosa deu-lhe umas suaves pancadinhas na mão pousada no colo.

- Descansa lá, filha!

Falou o tempo todo durante a viagem, mas a Isabel não ouvia. Pendia entre o sono, o aquecedor da loja do Sr. Tadeu, que cobiçava desde o início do inverno; o creme hidratante e a vida com que sonhara.

- Isabel, filha! Acorda! Estamos a chegar!

Levantou-se sobressaltada.

- Calma! Ajudas-me a levantar?

Auxiliou a Dona Júlia, que uma vez equilibrada se dirigiu para a saída, enquanto ela pegava nos sacos de roupa, livros e alguns enlatados que lhe dera a Senhora Dona Luísa, a senhora para quem cozinhava e em cuja casa fazia limpezas, cinco dias por semana, de há seis anos àquela parte.

Cheirava a fumo na rua, e o ar era intoxicante. A Dona Júlia, incapaz de conter a sua curiosidade, de braço entrelaçado no da Isabel, deu de novo início ao monólogo.

- Ai meu Deus! Não te cheira a queimado, Isabel? Isto houve para aí incêndio! Ai podes ter a certeza que houve. E foi ao pé do bairro. O cheiro está cada vez mais forte. Será que morreu alguém? – Voltou a benzer-se. – Deus nos livre! Ai Isabelinha, já pensaste! Que horror! Quem terá sido. Ai até me estou a sentir mal…

- Calma Dona Júlia…

Ouviam-se gritos, e a intensidade dos mesmos amplificava-se conforme se aproximavam, deixando antever no céu nocturno, toldado de fumo cinzento, os feixes de luz dos carros de combate a incêndios.

- Anda! Vamos lá mais depressa, Isabel! Ai valha-me Deus! É mesmo no bairro!

A confusão amontoava-se, com as ruas cheias e as vozes elevadas. E tornaram-se ensurdecedoras quando dobraram a esquina, ficando de frente para as casas. Havia gente a chorar, abraçada, ambulâncias a prestar assistência aos sinistrados e aos demais, que sob forte emoção, haviam sucumbido, incapazes de reagir ao desespero. Dos prédios de três andares que formavam a travessa sem saída, quatro segundos andares, quatro primeiros andares e dois rés-do-chãos encontravam-se ainda em rescaldo, com os bombeiros colocados estrategicamente em escadas e no chão, de agulhetas apontadas para as réstias de chamas. O intenso fumo impossibilitava uma clara visão do cenário, e o amontoado de gente afastado pelo cordão policial impedia-as de ver bem o que se passava.

Sentiu um gelo percorrê-la, ao passo que a preocupação crescia. A Dona Júlia largou-lhe o braço, aos gritos, dirigindo-se aos vizinhos para inquirir a cerca do sucedido. Ficou paralisada a olhar para os restos do seu primeiro andar.

- Isabel!

Ouviu o seu nome e tentou ver de onde vinha.

- Isabel!

A Cristina, a vizinha de baixo, amiga de infância, desde sempre a sua mais fiel companheira de aventuras e desventuras, caminhava na sua direcção, de cabelo desgrenhado e a parca roupa mascarrada pela fuligem.

- Cristina! O que é que aconteceu aqui, meu Deus?!

A amiga lançou-se-lhe nos braços. O cheiro a fumo e a queimado entranhou-se-lhe pelas narinas agora já tornadas sensíveis pelo ambiente em torno de todos.

- Isabel…

- Os meus meninos?

A Cristina afastou-a, segurando-a pelos ombros. Os olhos brilhavam de emoção, prontos a despejar os últimos acontecimentos.

- Estão bem Isabel! Foram assistidos e levados para o hospital.

- Hospital?!

- Calma! Não lhes aconteceu nada! Apenas prevenção. Engoliram muito fumo. Foi o meu Pedro que os foi buscar. Isabel, acho que o incêndio começou na tua casa… Querida, tens que ser forte!

- Forte?!

- Isabel, o Jorge morreu! Não o conseguimos tirar com vida…

Alessandro Ricci

quinta-feira, 23 de maio de 2013

SÉTIMO EXERCÍCIO (terceira semana)

Este exercício, por assim dizer, "matou-me". Foi difícil. Um bloqueio! 

Novamente palavras obrigatórias, mas com novas regras: o número de palavras permitidas entre elas.

Resultado (um pouco confuso...):

"Dobrou a esquina pouco antes de eles. Todos os sítios por onde passara eram novidade. Paciente, reteve-se a ouvir, pensando no que acontecera. Não sabia precisar tudo, e as frases, conseguia ouvi-las deturpadas. Encostou o ombro à ombreira, sempre atenta, contando os transeuntes. Mexeu no bolso, atrapalhada à procura da nota... Aconselhada muitas vezes a esquecer, sentia consolo no ralhete do chefe.

- Vêm connosco?
- Nós ficamos!

Teria que pensar! Divididos, era diferente. Havia gente nova no grupo. Cada nova vida envolvida naquele mundo, também a baralhava..."


"In Search of Meaning", Jiten Hazarika

quinta-feira, 16 de maio de 2013

SEXTO EXERCÍCIO (segunda semana)

Construção e caracterização indirecta de personagens.

As suas manhãs são tarefa árdua. Ao abrir dos raios de Sol, a Isabel vence sempre, já de cara lavada e parcos agasalhos, deambulando ainda ensonada pela cozinha, onde seis tigelas e colheres de sopa são dispostas sobre a mesa que aguarda os seus ocupantes. As madeixas soltas, ainda desalinhadas são colocadas por detrás das orelhas pequenas, descobrindo os olhos saturados, na tentativa de perceber melhor as intenções das suas mãos.
A cafeteira de leite é colocada à presa sobre o fogão cujo bico insiste em não se acender sob as enérgicas tentativas. E quando finalmente deixa de resistir, Isabel encaminha-se para o corredor, onde dá som à sua voz matinal:
- O pequeno-almoço está pronto!
O marido e os quatro filhos encaminham-se para a divisão, o marido despreocupado, a filha mais velha com o irmão mais novo ao colo, e os dois do meio atrás, único lugar onde todos se encontram e onde Isabel dá instruções acerca dos longos e melancólicos dias. O cansaço redobra logo ali, deixando-a indisposta e revoltada.
Rapidamente engole os cereais, enquanto enfia colher após colher na boca do mais novo, que desde sempre resiste aos alimentos, já a desprender-se do velho roupão de moletão rosa. Segue para a casa de banho, de onde, terminada a sua higiene, sai já vestida e pronta. Passa pelos quartos e puxa as orelhas às camas. Sob os seus gestos, as roupas das crianças deslizam sobre os corpos frios de bocas a tiritar. “Tenho que comprar o maldito aquecedor.” O seu pensamento foge momentaneamente para a loja de eletrodomésticos do Sr. Tadeu, onde acumula prestações.
Coloca as mochilas nas costas dos dois do meio, incitando-os a dar a mão. Pega no mais pequeno. A mais velha, com apenas sete anos, segue os seus gestos, pronta a ajudar a mãe no que for necessário.
- Vá! Vão dar um beijo ao Pai!
As três crianças mais velhas entram na sala, onde o Pai se encontra já instalado no cadeirão, de comando de televisão na mão. A sua reação ao afecto dos filhos é fria. Profere apenas um “Até logo”. Isabel baixa a criança que tem ao colo para que o marido lhe deposite um beijo na testa. “Se pelo menos levantasses o rabo para me ajudar…”
- Não te esqueças do levar o lixo. E é melhor comprares apenas oito carcaças hoje. Até logo!
           O mais certo é o saco do lixo ficar onde está…
           Sai pela porta, em direcção à escola ali mesmo em frente. Ainda passa pela ama, antes de correr para o autocarro já quase a partir.


Mãe e Filho, Pablo Picasso

quarta-feira, 15 de maio de 2013

QUINTO EXERCÍCIO (segunda semana)

Não transcreverei os terceiro e quarto exercícios. Resultaram de uma forma bastante pessoal...

Portanto, aqui fica o quinto exercício.

A Margarida apresentou-me a margem da folha de um livro em que surgiram as seguintes palavras:

- Uma cara
- indolentes pela
- ruga desapontava
- ser um 
- encovados
- Sim, eram
- Uma vida
- caía para
- puxou-os
- preguiçosos
- Tanto fazia

Montar um texto com estas mesmas palavras, mantendo os grupos unidos, ignorando a pontuação e as maiúsculas. O que a Margarida pede é que se escreva depressa.

Resultado:

"Uma cara, mais outra, várias surgiram sob a ombreira da porta, indistintas e disformes perante a escuridão presente na sala de estar. Sérgio mantinha-se imóvel, em frente à lareira, assombrado pelas presenças desconhecidas que caminhavam indolentes pelo espaço ao seu encontro. Um toro de madeira rebolou na lareira acesa, intensificando a luminosidade ténue e reflectindo alguns rostos brancos e indescortináveis. Uma ruga desapontava sobre a testa curiosa do rosto que se impunha na frente da procissão. "Quem é este homem? Pode ser um dos  intervenientes que esteve presente na reunião da há dois meses..." 

Podia, mas não estava certo. Várias bocas, de lábios encovados pelo silêncio imposto, iniciaram ligeiros esgarres, de quem pretendia demonstrar uma opinião de perplexidade. Reconheceu algumas. Sim, eram as mesmas caras que vislumbrara na manifestação! Jamais se sentira tão indesejado, tão "persona non grata" como se havia sentido perante aqueles olhares perscrutadores, que num grito unido e ensurdecedor, empunhando palavras de revolta em cartazes artesanais lembrando, alguns, uma vida perdida, inacabada, nos meandros de uma crise sem precedentes. 

Desviou o olhar na direcção de um inesperado movimento. Um rosto feminino caía, para logo ser amparado pelo seu vizinho. Outro puxou-os, tentando suster ambos. Apetecia-lhe descartar-se daquelas presenças. Apetecia-lhe mandá-los embora, chamar a polícia, mas não conseguia chegar ao telefone; chamar os seguranças, mas estavam detidos no exterior pelo resto da maralha revolta. Sentiu a raiva crescer enquanto as palavras se engasgavam na sua garganta, num atropelo descontrolado.

- Seus preguiçosos! Não tivessem feito greve! Não estariam agora sem emprego. Há mais quem queira trabalhar. Não valem nada! Como se atrevem a invadir a minha casa, nem sei! Rua! Rua, ouviram!? Saiam!

A maralha avançou empunhando o que distinguia agora serem paus, porretes, pedras. Não escaparia àquela investida, de certeza. Mas também, tanto fazia! Estava já tudo perdido, e nenhum daqueles meliantes venceria. Seriam todos apanhados e castigados. Tinha esperança disso!"

(meia hora)


"Together", Jiten Hazarika

terça-feira, 14 de maio de 2013

PRIMEIRO E SEGUNDO EXERCÍCIOS (primeira semana)

A Margarida Fonseca Santos prepõe, no seu livro "Escrita em Dia" que façamos os exercícios de escrita pela ordem em que são apresentados no livro, sem saltar, e sem ir ver mais à frente.

Como já referi, não vou apresentar todos os exercícios. Alguns têm resultado de forma bastante pessoal. Mas outros têm sido bastante divertidos e reveladores.

O primeiro sugerido tem a ver com as sílabas do nome.

ANA MAFALDA CATITA LAMAS

1. Agrupar as letras em grupos de dois:

AN  AM  AF  AL  DA  CA  TI  TA  LA  MA  S

2. Construir um texto sabendo que todos estes pares de letras estão incluídos em palavras.

Eis o resultado:

"Antes de reaparecer, amedrontada devido ao afinco com que lhe falara o director, sentiu-se danada e incapaz de explicar os sentimentos que a avassalavam. Permanecia estica, lançando um olhar perdido e manifestando a sua insegurança."

Lista de palavras usadas:
- Antes
- amedrontada
- afinco
- falara
- danada
- incapaz
- sentimentos
- estática
- lançando
- manifestando
- sua

3. Utilizando estas mesmas palavras, é de seguida sugerido que escreva um texto um pouco maior, podendo, no entanto, modificar as palavras e alterar a sua ordem.

"Jamais se sentira tão amedrontada como naquele preciso momento, em que coisa alguma parecia fazer sentido. Lançou um olhar nervoso e furtivo sobre a sala, onde tudo parecia ter mudado. Não havia vestígios da taça de hóquei do torneio inter-escolas. Incapaz de articular uma única palavra, sendo a sua vontade a de revirar tudo num instante, fitou-o, os sentimentos num reboliço, envoltos por uma névoa que lhe toldava a visão da sua expressão. Mas permaneceu estática, transparecendo o quanto estava danada. Apenas a sua boca manifestava vontade de articular alguma palavra, mas o cérebro mantinha-se temporariamente inepto.

Ele sorria-lhe, um sorriso malicioso, impregnado de falsidade e, antes que ela conseguisse articular uma palavra, proferiu afincadamente:

- É apenas o inicio...

Mal as palavras lhe saíram, ela avançou, ainda sequer certa que ele falara ou que percebera o que ouvira."

Primeiros dois exercícios terminados!